segunda-feira, outubro 27, 2014

"Não tenho nada com isso nem vem falar/eu não consigo entender sua lógica"



Ampliando aqui um pedido meu postado no FACE:

Peço, por gentileza, aos meus queridos facebooquianos, quer sejam amigos, quer sejam conhecidos, alunos, colegas, ou mesmo parentes e agregados: não me marquem em posts pseudo-positivos ou pseudo-revoltosos sobre o Nordeste e os nordestinos. Eu não compactuo com essas raivinhas criadas no calor da hora e sei perfeitamente a quem elas estão promovendo. Não percam seus preciosos tempos com essa baiana-nordestina aqui. Tenho memória suficiente das eleições presidenciais, a partir de 1989, quando comecei a votar, e sei perfeitamente dessas armadilhazinhas criadas tanto por quem vence como por quem perde. Ora são os paulistas que afundam o Brasil, ora são as elites, ora são os pobres, e quem mais servir de algoz à vítima do momento. É óbvio que todos nós, de alguma forma, sabíamos que o PT iria ganhar essa eleição, porém, é facultado aos cidadãos livres dizerem "sim" ou "não" às probabilidades. E eu disse, digo e direi NÃO a esse modelo de gestão. E digo não porque é uma gestão corrupta, fraudulenta, cerceadora, que se sustenta à base de bolsa/compra de voto com o dinheiro público, um aparelhamento do Estado imoral, embrulhado nesse discurso falso de socialismo, que, primeiro, distribui o ódio, depois, se faz de cordeirinho. Ganhe aqui e ganhe acolá, mas não com meu voto. Não tenho nenhum problema em ser baiana nem nordestina até porque muito pouco me servem essas demarcações superficiais. Dito isso, quero dar parabéns pelas manifestações tão preocupadas e tão sentidas e tão verdadeiras em relação ao nós, nordestinos, está sendo lindo, como diria Caê, mas me deixem de fora. Até porque sou uma pessoa irremediavelmente romântica e não posso me "deixar levar por um papo que já deu".

P.S. Se possível, ouvir a gravação de Roberto Carlos, com aquele nipe de metais... please!
http://www.youtube.com/watch?v=vQiSXnrVPVM

sábado, outubro 04, 2014

E aquela boa e velha mão na cara?



1. Existir é realmente uma tarefa árdua, por vezes ingrata. Não é à toa que Clarice Lispector (me refiro à escritora brasileira que nasceu na Ucrânia, não à Clarice do Facebook) escreveu: "nascer me estragou a saúde para sempre". É verdade. Nada mais nocivo à saúde, quer do corpo, quer da mente - que de resto estão hiperligados; nós, esquizos, é que os separamos - do que essa estranha ódio-amorosa vida que teimamos em viver.

2. Quero que você saiba, meu caro, minha cara, que estamos juntos nesse barco. Não é muito, mas, pense, pense, estar acompanhado(a) já é alguma coisa, não? Claro que sim. Seja forte, criatura!, resista mais um pouco, resistir é do humano, lembra?

3. Você que a cada minuto respira fortemente, pra dentro/pra fora. Respira, respira, rói as unhas, torce cacho, se faz de distraído(a), surdo(a), alheio(a), solta os ombros, pensa/repensa, e dá um tempo, em vez de pôr em prática a grande e genuína vontade de meter a mão na cara do(a) próximo(a), porque sim, está claro: ele/ela o merece tanto! Não, não se incomode com explicações, eu sei, você sabe, quiçá quem escreveu os 10 mandamentos também o soubesse, como não?, todavia, agora isso desimporta, o que quero lhe assegurar é por demais simples: continue. Resista à tentação. É um esforço indecente, mas se assim não fosse, esforço algum seria, certo?

4. Em tempos de eleição, esse esforço imenso de existir se estende a alguns amigos, conhecidos, colegas de trabalho, colegas da vida, artistas e escritores queridos, vizinhos, parentes, e ainda àquelas pessoas de vida fácil que acham que irão nos convencer, súbita e milagrosamente, a votar em sicrano ou beltrano. Ah!, você pensa, exalando cansaço por todos os poros da alma, quanta gente molusca no universo. É verdade, mas, veja, não nos cabe questionar a ordem do Universo. O Cosmo, desde os primórdios, é surdo a queixumes. Portanto, procure se resignar diante dessa gente molusca que estiver a lhe chatear os neurônios. Na pior das hipótese você está aprendendo a velha máxima grega: livre é aquela criatura que controla seus próprios instintos, está lembrado(a)?

4. Alguns conselhos óbvios pra lhe ajudar na empreitada:

4.1. Não perca seu tempo tentando explicar sua posição política ou apolítica; a pessoa que desconhece essa coisa mínima que é o respeito pelas escolhas, crenças ou percepções e posições alheias, está definitiva ou temporariamente na pele de um molusco, e assim não ouve nada que não seja o eco daquilo que ela deseja ver concretizado, a saber: sua adesão, seu voto.

4.2. Também não adianta complicar a coisa com o esmiuçamento de posições complexas, para além da polaridade partidária. Dizer que você não é de esquerda há cerca de 10 anos, mas que isso não lhe transformou numa pessoa de direita... bah! é vespeiro certo. Pra você é o óbvio, mas pros moluscos não! Já tentei isso, porque de fato é o que sou atualmente, todavia, os moluscos só enxergam o mundo assim: ou isso ou aquilo. Veja se meu exemplo lhe diz alguma coisa: mal comecei a falar sobre essa minha mudança de perspectiva política, uma amiga travestida de molusco (ou seria o contrário?!) lascou um amplo e sonoro "ah, qual é, Állex, foi João Filho quem te convenceu a não votar no PT, não foi?" Pra quem não sabe, João Filho é meu companheiro, meu marido, meu amante, meu melhor amigo, meu poeta preferido, e é assumidamente de direita. Nos casamos há 8 anos. Daí, o brilhante raciocínio da "pessoa". Que se pode dizer diante disso? Fui obrigada a responder que sim, claro, eu, como toda mulher, sou acéfala, não penso, não tenho vontade, sigo as ideias políticas do meu marido, que, como todo homem, pensa melhor. A molusca ouviu, fez cara de quem "estranhava minha fala", mas nem por isso se envergonhou, mudou de assunto, passando a elencar o bolsa-família, o bolsa-estudo, o bolsa-presídio, o bolsa-puta que pariu, porque o tal partido por ela defendido erradicou a fome no Brasil... Compreendeu o pepino? Pois é, tem do grosso e tem do fino, mesmo que você sofra do intestino.

4.3. Ignore as chantagens emocionais. Há seres humanos tão violentamente moluscos que piram e começam a nos chantagear em plena discussão. Apelam, descaradamente, porque querem que você se sinta constrangido e, assim, compre a ideia partidária dele(a). Simplesmente, se faça de desentendido(a). Se a pessoa vier com "não esperava que você, tão sensível, tão inteligente, fosse votar em sicrano ou beltrano que é um retrocesso para o Brasil" - geralmente o retrocesso é algum candidato rival do dele. Não desenvolva. Chantagem emocional só precisa de um microporo pra tomar o centro. Se estiver em sua casa, diga com toda a autoridade do mundo: "não quero saber de política em minha casa". Use um tom arrogante mesmo. Levante-se e faça qualquer coisa boba, como secar o cinzeiro ou encher as taças. Frise bem o "minha casa" - se a pessoa for de direita, entenderá logo o recado e sossegará o facho; se for de esquerda, ficará horrorizada com sua possessividade de classe média e perderá a voz (que bom!). Caso esteja na casa do molusco, tanto melhor: avise que você se lembrou agora de ter deixado uma panela no fogo e tem de ir correndo ver se não está pegando fogo. Ressalte que você já perdeu toda uma coleção de panelas tramontinas por causa desses deslizes da memória e saia correndo, sem sequer se despedir. Se estiver no shopping, diga que vai ter de passar na ChachaDumDum, ou na Lacoste, ou na Richards, ou qualquer porcaria equivalente, pois lá tem umas camisetas que eram de R$ 690,00 na semana passada e um grande amigo seu acaba de lhe avisar que estão por R$ 289,90, mas somente nessa semana! Faça cara de consumidor(a) desesperado(a) e nem dê tempo pro molusco rebater nada, lasque dois beijinhos no rosto (não venha com carioquismos de um beijinho-só nessa hora grave, pois não é o caso), frise que não pode perder essa promoção por tempo limitado e zummmm!, suma! Sente-se naquele café e tome um expresso pra recuperar as forças. Caso esteja no trabalho, diga que precisa resolver um problema urgente, pois nesse tempo de eleição ninguém está trabalhando direito e tem sobrado muito pra você. O molusco vai ficar sem jeito e você aproveita pra dar aquele amistoso "até mais".

4.4. Não responda às agressões. Os moluscos agressivos são estilo Luciana Genro, esquizofrênicos sem remédio. Não, não adianta mostrar o óbvio: que ela é uma filhinha de papai histriônica, a criatura te responderá que você é a elite branca heteronormativa, a classe média de extrema direita que quer sufocar os ventos da transformação no País - independentemente de sua cor, orientação sexual, política ou classe social. Vá por mim, é perda de tempo. Há algum tempo eu li que o silêncio é uma arma que irrita, dá raiva no outro, e preserva a imagem de quem o mantém. Corretíssimo, não? Faça vistas grossas e ouvidos moucos aos amigos que, não satisfeitos em colocarem no Facebook a cara ou o partido do candidato dele estampado, ainda cismam de criar grupos de apoio a esse político, inserindo você sem seu consentimento; ignore os que diariamente compartilham contigo notícias irritantes sobre aquilo que acham "fundamental" divulgar; não leia o status daqueles que confessam uma disposição intrínseca em excluir pessoas que estão apoiando os candidatos adversários aos dele. Não se envolva, deixe que exclua, afinal, que importância há numa relação onde se é mensurado por um voto numa porcaria de eleição como milhares de outras que ainda existirão?

4.5. Se houver um abuso em relação a sua pessoa nas redes sociais, através de inclusões de seu nome nas postagens diárias de militância, exclua silenciosamente seu nome de tudo. De vez em quando seja mauzinho e denuncie naquele programinha do Face que a postagem é Spam ou que a conta de seu "amigo" foi invadida ou, a melhor opção de todas, que é uma postagem que "não deveria estar no Face". Se isso não adiantar, peça, educadamente, inbox, que ele/ela retire seu nome das postagens e não inclua nas futuras. Não entre em detalhes do por quê. Diga que não é do seu interesse e pronto. Se ele/ela te bloquear, ótimo, compre um bom vinho ou um uísque, cachaça, cerveja, o que seja, e brinde sozinho: o Universo está agilizando as coisas pra você. Agradeça: há males hoje que evitam desgraças maiores amanhã.

4.6. Além de respirar fundo, sempre, se agarre ao que é eterno, ao que tem laços reais, à poesia, ao que nos liberta. O inferno são os outros - escreveu outro molusco chamado Sartre, ele, sobretudo, um serviçal de Cerberus a nos contaminar com sua falsidade vermelha. É, meu caro, minha cara, a vida é dura. Se não bastasse ter de lidar com nossas próprias sandices, temos de lidar com as insanidades do momento. O inferno não são os outros, porém, os moluscos - essa bendita sede de diversidade do Universo - misericórdia!


5. Uma proposta: vamos gargalhar? Hoje, amanhã, e depois. Sei que você, assim como eu, tem feito um esforço sobre-humano pra resistir aos males da vida. Sei que você, a cada minuto, precisa conter as garras que ameaçam irromper corpo afora e retalhar a cara desse bando de moluscos que insiste em nos chatear. Wolverine perde, é certo. Aquela boa mão na cara, velha e funcional, você pensa, você se coça, você delira em dar... Mas não, criatura, definitivamente, não, que modos são esses? Resista, pelo bem da ordem, recue e considere: sempre se pode gargalhar. Uma gargalhada vale mais que mil bofetadas, lembra?

Em Não se vai sozinho ao paraíso, primeiro romance que integra a trilogia místico-erótica de Állex Leilla — cujo centro são as micro-...