segunda-feira, fevereiro 28, 2011


(Em foco: Bom Jesus da Lapa)
1. A humilhação, de Philip Roth: broxante, um dos textos mais fracos do romancista norte-americano. A ideia é muito boa: narrar a história de um ator que, ao envelhecer, se descobre incapaz de continuar a atuar. Basta ler a sinopse em qualquer site que temos imediatamente vontade de ler, entretanto, o livro é palavroso, se perde em cenas bobas, típicas de um filminho de sessão da tarde, e o personagem principal parece mais um ser infantilizado do que alguém em crise existencial. Tem um mérito para quem se importa com a extensão das histórias: é curta. Meu desgosto pode também ser explicado devido à leitura de A humilhação ter sido precedida por O animal agonizante, que é uma narrativa-pérola de Roth acerca da velhice, do medo de se entregar, e das surpresas do destino.
2.Abrir o peito, deixar entrar o sol meio mormaço da manhã, esta sensação de partida, de logo mais estar a embarcar, um gosto de quando a infância ainda vigorava, como explicar?
3.O contraste gritante com a cidade barulhenta, fora dos eixos, a cidade se preparando para o carnaval. Só nos resta esquecê-la, abandoná-la, retornar apenas quando tudo estiver acabado.

sábado, fevereiro 19, 2011


(Foto by João Filho)

Os seres deste planeta fizeram um pacto com o demônio, aonde vou, a qualquer hora do dia ou da noite, há bolas de fogo saltando, irrompendo, ofuscando. Há bolas de fogo restringindo, cerceando. O mundo é uma loucura de nervos. Alço voo até o limite do céu, mas todos os céus estão fechados, e meu corpo não os ultrapassa. Preciso ir embora deste mundo. Os seres deste planeta com suas bolas de fogo! Estou farto de viver me esquivando delas.

quinta-feira, fevereiro 17, 2011

Cortázar, o Julio.


1. Terminei de ler Exame final, uma narrativa experimental de Julio Cortázar, anterior ao romance Os prêmios. Sabe-se que a narrativa foi engavetada pelo autor, que não voltou a ela enquanto vivo, no entanto, voltamos nós, leitores, incapazes de dizer "não" à enxurrada de títulos póstumos oferecidos pelo mercado. Diante da admiração cada vez mais forte que tenho por Cortázar, sucumbo facilmente ao apelo e compro, todo mês, um novo livro. Não quero comprar todos de uma só vez, porque vou adiando o prazer de adquirir e, posteriormente, ler "algo novo" de Cortázar. Os "algos novos" ficam empilhados na prateleira dos não-lidos; nas férias, um deles migra pro quarto a fim de me fazer companhia duas, quatro noites, por vezes, semanas - a depender da fluência de cada livro.

2. Ler Cortázar é um prazer singular, difícil de ser transmitido, pois, para além do conteúdo das narrativas, para além da linguagem, do talento dele, há uma atmosfera típica em seus textos, uma cor que se instala, um cheiro, uma estação específica onde descemos e habitamos temporariamente. Vivência plena, porém, impossível de ser descrita - embora seja exatamente isso que ora tento, sabendo que tomarei, mesmo sem querer, palavras e caminhos óbvios.

3. Infelizmente, Exame final não é um bom livro, ainda que traga a atmosfera, a cor, a estação típica de Cortázar. Trata-se de uma narrativa walking-write, na qual um grupo de amigos passeia por uma Buenos Aires cheia de protestos, de violência, de zonas tensas e proibidas. Nos diálogos traçados pelos amigos se cruzam intertextos vários - letras de músicas, literatura, jornais, filmes etc. -, debaixo de um pano político que é mais sugerido que narrado. Um clima de suspense atravessa o livro, enquanto os amigos perambulam pela cidade, vãos a praças, bares, assistem a concertos, aguardando a hora para realização de uma prova, do "exame final".

4. O autor escolheu brincar com as formas de se grafar um texto numa página, a fim de captar os rumores e dinamismo não apenas do pensamento das pessoas/personagens, mas também dos acontecimentos numa Buenos Aires em polvorosa. Demora-se, portanto, a entrar no ritmo da narrativa, pois é preciso compreender mais o ritmo do que o sentido de certos parágrafos despedaçados. Mas a forma não dificulta a leitura, o que dificulta é, sobretudo, a falta de uma razão que nos impulsione a continuar lendo. Vão fazer um exame, sim, e daí? Perambulam pela cidade matando hora, sim, e daí? São pessoas cultas e cheias de visões filosóficas e políticas do mundo, sim, sim... Há um contexto político no entorno. Sim, sim, e daí?

5. É um livro de Cortázar, tem o estilo de Cortázar, mas não é O CORTÁZAR, compreende? Falta alguma coisa nele. Não a atmosfera, nem a cor, nem a estação. Falta alguma coisa de grande, de indiscutível, algum propósito maior, aquilo que ultrapassa o mero exercício de estilo. Sim, é doloroso pra um leitor dizer isso: mas dessa vez, reconheço, o autor tinha razão quando o engavetou, não precisava ser publicado.

Em Não se vai sozinho ao paraíso, primeiro romance que integra a trilogia místico-erótica de Állex Leilla — cujo centro são as micro-...