segunda-feira, setembro 06, 2010


O sonho dentro do sonho exibe níveis variados de sonhos, espaço onde se escorrega e se afunda, se levita e se passa de um plano a outro ou se multiplica ao infinito o que somos, o que escondemos, o que desejamos ser, de modo que se pode usar a velha analogia do caleidoscópio ou da casa de espelhos ou, ainda, da babuska, uma coisa dentro da outra que está dentro da outra, e assim, sucessivamente, até se chegar a menor coisa cabível dentro de outra coisa. Esse é o fascínio do criativíssimo filme "A origem", de Christopher Nolan.
Não é necessário reproduzir aqui o enredo do ladrão de sonhos que precisa implantar uma ideia - absolutamente simples, mas como toda ideia simples, complexa - na mente de alguém, afinal, isso está em todos os sites e programas semanais sobre cinema. O que gostaria, mas sei antecipadamente que jamais poderei fazer, é sintetizar a atmosfera borgeana do filme. Dizer do prazer de ir adentrando os abismos que ele mostra, para além do conceito metacinematográfico em que Leonardo di Caprio simboliza aqueles bons cineastas que, cercados por uma equipe maravilhosa (quem dera contar no plano tão previsível da vida com aquela Ariadne!) intentam implantar qualquer coisa simples - mas fatalmente complexa - em nossa mente, por vezes distraída, por vezes aberta, por vezes na defensiva, e, muitíssimas vezes, mal preparada para receber ideias assim. De todo modo, ter sido capturada por esse filme me salvou o domingo sacal, o domingo esmaecido, como de resto sabem ser tão bem os domingos.

Um comentário:

  1. Já vim outras, várias vezes aqui, mas a impressão que tenho, agora, é que entrei em uma casa às escondidas, e andei pela casa com cuidado, para não ser ouvido, e saí de fininho, pulando a janela. Ora, mas que maluquice! Sabe,Állex, entrei e sai calado não com receio de ser visto, ou ouvido. É que você nunca responde. E sua ausência é presença muito forte. Por isso esse cuidado.
    Gostei do seu texto, da forma como mostrou esses vários níveis do sujeito, onde ele se esconde. O escritor também foge para longe de si, talvez exatamente para se encontrar, pois a ele é dado ser um autor, um escritor, um narrador, uma personagem e outras personagens. Tudo isso para esconder - ou quem sabe encontrar - uma coisa que sabe lá Deus...
    Tão bonita você na foto! Sei que você é casada. Eu também sou. Mas há lá algo de errado em se achar alguém bonito? As coisas são como são.
    Abraço.

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