quarta-feira, agosto 25, 2010


Mas lutamos, lutamos todos os dias quando abrimos as janelas pela manhã e cerramos as cortinas imediatamente após às 17:30, só pra não ver o rápido acender de luzes deste bairro, desta rua. Se esta rua, se esta rua fosse minha, eu mandava, eu mandava ladrilhar, com pedrinhas com pedrinhas de brilhantes, para o meu, para o meu amor passar. Lutamos o tempo que nos vem e muito nos cabe ou sobra ou falta, lutamos o mais que podemos, perdendo fios de cabelo, cortando unhas, suando, a cada dia, a cada minuto. Não queremos ser reles, não queremos ser banais. É um esforço indecente, sabemos. Mas não choramos nem nos descabelamos. Nosso segredo, foi Macalé quem disse, é que somos rapazes esforçados... Entretanto, a qualquer momento, podemos morrer exatamente assim: na passagem de um gesto a outro. De graça, sem razão. Sabemos, desconfiamos o quanto se pode reter a vida, estreita, estranha, dentro de nós. Reparamos: as árvores já não estão tão secas, o tempo já não esfria tanto quanto ontem. É dos dias banais que extraímos singela significação. Passamos um tempo branco de fala ruim, de gestos vagos. O pior de tudo é quando tentamos explicar as coisas a miúdo, sem ter palavras belas, sem motivações. Olha, hoje é um dia como outro, somos gente, estamos aqui. Poderíamos apenas nos calar, é claro. Mas não, não queremos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Em Não se vai sozinho ao paraíso, primeiro romance que integra a trilogia místico-erótica de Állex Leilla — cujo centro são as micro-...