quinta-feira, julho 23, 2009

Não conto nada, que já estou de saco cheio, dizem que para morrer basta estar vivo, estamos vivos e não morremos, eta, inocência! ou será burrice mesmo?, agora, ao menos, não há dissipação, e não se dissipar tem seus méritos, arriscaríamos até analogia: cinzas de cigarro, sim, por que não?, além do cheiro morno - tão morno que quando sinto me assombra o quanto ainda pode ser vivo o cheiro de alguém em algum canto deste edifício fumando cigarro -, o cigarro deixa cinzas que raramente podem ser dissipadas, ficam dias pela casa, nos objetos, na ponta dos dedos, na língua, e pensar que tantas vezes trepamos com cigarro nos dedos, na língua, foi você quem disse certa feita e nem me lembro se de tarde ou madrugada, sempre que a noite chega é este medo de contar o que não se conta mais, simplesmente porque passou o tempo disso: contar, pensar que você disse tão bendito e até gracioso, sempre que a noite chega é este medo de contar o que não se conta mais, pois é, sabíamos, há anos sabíamos, por que então a teima em tentar de novo?, não conto nada, meu saco: cheio, é que para morrer basta realmente estar vivo, estou vivo, por que não... ahã?

5 comentários:

  1. Lembrei de Caio Fernando Abreu: apagar a luz mais forte no alto, acender o abajur e começar a falar ao outro, como quem se aventura no trapézio e só depois percebe que a rede não está lá...

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  2. o saco, a morte e o cheio que via fazendo da vida essa coisa meio morta e meio Pegajosa

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  3. Maravilhoso. Grande abraço.

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  4. Ôi Állez, postei este texto lá no meu blog. Grande abraço.

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  5. Anônimo10:31 AM

    Állex,

    Du caralho o "HENRIQUE", dá um baita filme. Uma caixa de belas imagens página após página, virei fã e ainda não acabei de ler. Parabéns.

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