terça-feira, outubro 30, 2007


Uma calçada

Vim pensando nisto: felicidade demais quando não mata, aleija.
Olha as flores como ficaram tortas, olha as flores, meu amor.
Os beijos açucarados, a carne mole.
Ou nem isso.
Andar faz mal à mente.
Penso: um céu de cinza tenso, entre prata e marinho e nuvens ciganas de um lado pro outro, entretendo-nos com suas danças. Penso: pimentas. Amarelas, verdes, vermelhas. Espremidas em azeite dentro das garrafas reluzindo na beira da estrada.
Onde?
Quando?
Que nada!
Tudo mentira.
Penso é no teu sexo.
Brinco que penso em nada sério. Disfarço. Sento na calçada da casa.
Aquela-essa-esta casa antiga da Vitória.
Bebo tua saliva morna de boca ainda agora mesmo acordada. Fecho os olhos durante o beijo para ver se penso menos, des-penso o pensamento de hoje-sempre, mas não tem jeito, percebo: penso no teu sexo de novo. Mesmo te sabendo puro sono, eu: dor de cabeça leve na fronte.
Acendemos cigarros.
Sentados na calçada da casa antiga.
A nicotina ameniza na cabeça tudo que é chato, inútil. Essas coisas tão previsíveis do mundo.
Vim pensando em tudo isto. Leve-solta do teu lado.
Volto a buscar o foco outra vez.
Alguns planos contigo. Casa, viagens, livros, bebês.
Coisas assim: pequenas. Mas luminosas. Como o sol na calçada da casa antiga da Vitória. Esta-essa-aquela.
Desimporta.
Andar faz bem à mente.

2 comentários:

  1. Demais mesmo. Grande poema.

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  2. Anônimo1:05 AM

    SUAS PALAVRAS REALMENTE ME AFETAM.
    SEMPRE BOM VIR AQUI.
    DANI

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