sábado, abril 29, 2006

A Terra azul & teus pêlos, amormeu


A Terra azul, teus pêlos, acordei toda doendo, não sei se você sabe, amor meu: Artur Bispo do Rosário queria salvar uma cópia de tudo que era belo & importante neste mundo, numa nave espacial. Pra quando chegasse o Dia do Juízo, poder enviar pra outro planeta tudo aquilo que não merecia de Deus nem julgamento, nem fogo, nem caos.

Falando em caos, te confesso: estava quase refeita. Mas sonhei contigo outra vez. Sonhei que trepava contigo no sonho que queria jamais ter tido. Era de uma intensidade absurda. Acordei toda rasgada. É ridículo, sim, é ridículo, eu sei. Um sonho desses tão incorpóreo e, ao mesmo tempo, tão corpo no corpo do outro, o teu.

Aquilo tudo que era por demais gigante. Aquilo tudo que não pode ser destruído. Aquilo que nos mata de tanto estupor – a beleza, tua beleza, na minha cama, de peito nu. Ele queria mandar a perfeição pro buraco escuro do universo, talvez até pra outro planeta. Veja você. O profeta. Condenar a perfeição ao infinito. Que idéia. Pra ficar girando, às cegas, pelo infinito, batendo de planeta em planeta, órfã, pagã. A perfeição que a Terra concebeu seria arrancada da Terra. Extirpada, mandada pro espaço sideral. Como acontece com teu sexo quando escorre do meu. A separação da beleza: flor de um lado, talo d’outro. Por causa de um Juízo. Um reles juízo. Nos tirar da solidez da Mãe-barrenta. A mãe-carambola-no-cio-chamando-a-mordida-de-nossos-dentes. A Terra azul. O nosso chão, a nossa única certeza. Veja você.

Portanto, para o profeta, o fim do mundo está circunscrito a este planeta. Isso foi bom de saber. Os outros corpos celestes podem até nos dar guarida. Como no exílio. Passar a mão na nossa cabeça, na madrugada-lombriga-nas-vísceras, a madrugada-desgraça-na-espinha, a madrugada-choque-nos-dedos. Um carinho nos cabelos, um sopro no ouvido, dizendo: tá tudo bem, coração-terreno, tá tudo bem, esquece, dorme, vai passar. Acontecerá isso em outro mundo? Será que em Vênus nos darão água pura, consolo, oxigênio?

Por falar em oxigênio, eu jamais entendo: por que desgraça você não pode ser completamente meu?

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