quinta-feira, abril 20, 2006

Para J.B.F.F.

Amormeu, mar absoluto, dos fios dos teus cabelos que ficaram pela casa – no sofá, nos lençóis – preciso, cautelosa, construir outra manhã.
Amor de um tempo que veio e não veio, de um perguntar eterno na cabeça, qual noite te terei inteiro, em qual vida serás só meu eu somente tua?
Seus dedos navegam na atmosfera de chuva e descoberta.
Estão em meu sexo, estão no cigarro que acendo, estão na janela dizendo adeus.
Ruminâncias manhã afora, manhã adentro.
Não se espante. Não tema. Permaneça.
Te falo as coisas mais claras quando a luz do sol falta.
Te falo as coisas mais duras, quando a claridade a tudo recobriu.
Amormeu, tempestade absoluta, não pedi jamais aos céus que viesses, não pedirei jamais que fiques.
O mundo me acostumou a coisas grandes: mares sem porto, felicidades maceradas, feito o vinho da uva, feito roupa no varal.
Nunca, jamais fui pouca
no centro da vida de todos os meus amores, os outros.
E assim acostumada a ser o muito e o tudo
derrapo miúda na manhã em que percebo: sobrará quase nada de mim no depois.
Mas não tenho medo. Não tenho medo: creia.
Ainda dentro dos teus pêlos, repito: é cedo, é cedo.
Ainda passeado a mão neles.
Ainda adormecendo.
Ainda grudando os lábios neles.
Ainda acordando.
Quero somente a eternidade e mais todos os dias deitada quieta entre teus pêlos.
Deitada quieta neles
Volto a ser absoluta.

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